sexta-feira, 3 de abril de 2020

CONTOS DO CORONA VIRUS - autoria FERNANDO ZÉCA

MAIS OUTRO DIA DE GUERRA

Esta é uma obra de ficção científica.
Qualquer semelhança com nomes e fatos ocorridos, ou não,
neste, ou em qualquer outro universo paralelo, é mera coincidência.

***

     Dentro de poucos anos, num futuro próximo, encontraremos, eu escritor, e, você leitor(a), na ilha de Jeju, que hoje pertence à Coreia, um dos mais interessantes palcos da guerra mundial, então, no momento, em curso.
       Neste cenário, sobre o cadáver insepulto do finado estado coreano, duas potencias militares, China e as forças aliadas representadas por vários países, tal qual aves de rapina, disputam ferozmente cada palmo de terra e metro cúbico de ar poluído local.
          A natureza alí foi mudada e, onde haviam tuneis subterrâneos quilométricos naturais, foram escavadas vias por onde circularam antes, até veículos turísticos.
         Depois de iniciada a mais recente grande guerra mundial, uma pandemia espalhou-se pelo mundo transformando todo o imenso labirinto de cavernas, num espaço fantasma com cadáveres por todos os lados.
        No momento em que as cenas aqui descritas, ocorrem, eventualmente algum veículo militar patrulha tal espaço, sendo raro este tipo de missão, pois alí dentro, agora pesava uma aura sombria inexplicavel, talvez ocasionada pelas almas dos mortos insepultos, que impediam as comunicações por rádio, celular, ou qualquer outro meio, com o mundo exterior.
         Mesmo os drones, neste espaço, nada transmitiam, e logo paravam de funcionar, sem qualquer explicação.
     Haviam ocasiões entretanto, que as missões exploratórias naquele interior, eram inevitáveis, visto que, o local era propicio para que forças inimigas, eventualmente alí se escondessem.
     Daí que, na ocasião a que nos referimos, um veículo blindado aliado, muito bem armado, e, comandado pelo japonês Tenente Chokan, atravessou os umbrais da saída da caverna, depois de uma tenebrosa missão que durou mais de uma semana para chegar ao fim.
       Quando ia abrir a escotilha para, aliviado respirar um pouco de ar fresco, o computador disparou com um importante alerta:
     -Veículo inimigo identificado , na mira e dentro do alcance de armas para destruição total.
      Com calma e precisão nipônica, o Tenente confirmou a informação recebida e arregalou os olhos:
     De fato tinha na sua mira um blindado chinês negro com a estrela vermelha pintada na sua lateral.
     A ordem que tinha era para atirar, SEMPRE que simplesmente avistasse aquele tipo de veículo.
     Não havia tempo a perder.
     Destravou o armamento, calibrou o canhão de raios e posicionou o dedo no gatilho.
     O tiro seria certeiro e destruidor.
    Não havia como errar.
     Era só apertar o botão.
   Na hora de efetuar o disparo, ao verificar o alvo que avançava velozmente na sua direção, o Tenente Chokan ampliou a visão que tinha sobre a situação e mudou de ideia.

***

    Aquele modelo de blindado chinês era um veículo conhecidamente perigoso, pelas forças armadas aliadas, que os queriam destruídos, sempre que aparecessem em alguma ocasião, qualque ela que fosse...
      Mas...
   O que teria feito um Tenente japonês, mudar de ideia, desobedecendo ordens expressas?
   O blindado chinês estava fugindo.
   Não que isso fosse coisa inédita, fato que não era.
   Fugia atirando.
 Disparava seus poderosos canhões de raios, a toda potência, contra um alvo surpreendentemente inesperado...
   Um colossal OVNI negro, de dimensões quilométricas, que lá do alto, acima das nuvens, resistia aos tiros que tomava, como se fossem estes meros empurrões oriundos de um pirralho.
  Não bastasse o cenário surpreendente, fluia de uma das crateras no solo, rio de lava ardente em direção ao objeto voador, como se este sugasse toda aquela pasta ardente e fumegante, do mesmo modo que se puxa refrigerante por canudinho.
    O Tenente Chokan, diante daquela cena, sabia bem o que fazer.
   Suas milhares de horas gastas vendo mangás e animés deixaram-no suficientemente esperto a ponto de identificar o verdadeiro inimigo da situação:
   Aquela nave, provavelmente alienígena, que estava sugando energia vital, ou fosse lá que diabos do inferno fossem, do centro da Terra.
    Sem titubear, o Tenente reajustou o alvo, reprogramou o computador e disparou contra o verdadeiro inimigo da raça humana:
    Aquele OVNI ameaçador.

***

     A potência de um canhão de raios japonês, na hora do tiroteio, fez a diferença.
  Não que os produtos chineses sejam notoriamente aquela porcaria que de fato conhecemos, mas, quando a artilharia do blindado aliado comandado pelo Tenente japonês começou a mandar seus petardos, o OVNI parou com a parasitagem e, de um instante para outro desapareceu dos céus, como se alí nunca estivesse antes.
     Restaram então, os dois blindados de forças inimigas.

***

     O blindado chinês era um alvo facil, sua artilharia não seria nem mesmo capaz de se virar em tempo suficiente, contra o inimigo aliado, mas o espirito samurai do Tenente Chokan o impediu de qualquer ato de violência contra quem combatera lado a lado expulsando perigoso inimigo, vindo sabe-se lá de onde.
     Ao invés disso, desafivelou os cintos que o mantinham preso à poltrona, levantou-se e abriu a escotilha de acesso.
  Fora treinado para agir na conformidade de que, ao inimigo chinês, nenhuma complacência deveria ser dada, dado que este era totalmente desprovido de confiabilidade e honra no combate.
     Entretanto, a vitória sobre aquela ameaça desconhecida despertou no Tenente japonês, aquela força que aparece nos torcedores quando comemoram os gols do seu time de futebol.
     Saiu do blindado gritando com os braços levantados, e assim que tocou os pés nos solo começou a dançar tamanha a alegria.
    A celebração contagiosa empolgou também o ocupante do blindado chinês, que, em seguida desligou o seu veículo e saiu comemorando o feito histórico.
     Os dois soldados se aproximaram, bateram continência e apertaram as mãos.
     O chinês tirou do bolso um objeto parecido com uma grossa caneta colocou-o entre si e o Tenente Chokan e falou algo em seu idioma:
     Logo, um som saiu do objeto, com a voz do soldado chinês, falando em japonês:
     -Meu nome é TAO. Sou Tenente do exercito vermelho.
     -Me chamo Chokan. Também sou Tenente.
   As formalidades seguiram, até com trocas de fotografias e mais algumas conversas triviais, até que surgiu a pergunta:
    -E agora: o que faremos?
   -Devemos informar os nossos superiores. Esta situação é completamente inusitada. -        Respondeu Chokan.
   -Tem razão. Nunca vi nada igual, eu estava patrulhando este setor, quando apareceu esta coisa no céu disparando contra mim e arrancando lava do chão.
   -Em meio a este cenário de guerra. Vendo um negócio desses, não duvido que seja essa coisa, a causa principal que colocou nosso mundo em guerra.
   -Também concordo. - Disse Tao. - A incompetência e a safadeza dos políticos traidores que, nos faz brigar, é assassina demais até mesmo para ser considerada humana.
“O partido obriga o povo a se sacrificar pelo comunismo, mas, tamanha carnificina, só pode mesmo ser ordenada por forças que queiram o fim do planeta inteiro.”
   -Registrei tudo o que aconteceu desde o momento que saí da caverna. - Disse Chokan. - Vou acessar a rede e informar os superiores, com vídeos e dados dos sensores.
   -Vou fazer o mesmo. Nossa iniciativa vai mudar os rumos dessa guerra idiota, e, mostrará ao mundo quem é o verdadeiro inimigo.
   -Podemos estar iniciando aqui uma nova era de união e harmonia, que vai erguer a raça humana a um novo patamar de iluminação espiritual.
    -Então vamos avisar nossos comandos.
   Através dos sistemas militares de internet aos quais os soldados entraram em contato com seus superiores, foram enviadas todas as informações com as cenas de combate filmadas pelas câmeras dos dois blindados.
    Não havia o que contestar nos dois relatos pois neles, não havia qualquer mentira.
    Os oficiais superiores de ambas as forças antagônicas, que ouviram o ocorrido, diante de tão inusitada ocorrência, logo no momento que tomaram ciencia dela, surpreendentemente, adotaram posições semelhantes:
   -Vocês agiram corretamente. - Concordaram tanto chineses, bem como aliados. - Essa ocorrencia deve ser levada ao conhecimento do alto comando imediatamente. “Generais, Almirante e Chefes de Estado saberão disso agora.”
     Feitos os comunicados aos seus respectivos alto-comandos, os dois oficiais sentaram-se próximos a uma fogueira onde acenderam cigarros trazidos pelo Tenente Tao.
    -Não são tão bons como os ocidentais, mas, são chineses que sobraram pelo mundo, depois de tantas pragas e virus, e, os que temos para comemorar a chegada dos novos tempos de paz e harmonia, em torno de ideais comuns, no enfrentamento contra as emaças cósmicas.
     -Sim. Finalmente a humanidade vai perceber que só a verdadeira união faz a força.
   O tenente Chokan estendeu a mão para o soldado chinês num cumprimento que foi imediatamente retribuído.
   Tão magnífica cena, poderia, SE fotografada, imortalizar-se como o momento em que a verdade depois de revelada, levou a humanidade para um caminho de união ímpar contra a ameaça maior.
    Entretanto...
  Os atos dos dois tenentes tiveram repercussões que forem além do alcance de suas vistas, e daquilo que lhes era informado.
   A ocorrencia que ambos relataram, logo chegou a um circulo muito fechado de líderes globalistas, que logo tomou medidas visando a proteção de seus interesses.
   Assim que firmou-se aquele que seria um dos mais significativos apertos de mão, já ocorridos em toda a história, na superfície da terra, bem ao lado de onde se cumprimentavam os soldados da paz, explodiram, sem qualquer aviso, dois mortíferos e silenciosos projeteis hipersônicos disparados de diferentes e antagônicas embarcações de guerra navegando a muitas milhas de distancia dalí.
    Como resultado, a deflagração matou na hora, os dois guerreiros que sonhavam com a paz.

***

      Em seguida, foi a verdade suprimida, por ambas as forças beligerantes, com os vídeos e dados enviados pelos heróicos defensores do fim da guerra, sendo imediatamente considerados subversivos, mentirosos e proibidos.
   Horas depois, os jornais e meios de comunicação dos dois blocos em guerra, estampavam cada qual ao seu lado, idêntica manchete:

“Na ilha de Jeju, BLINDADOS SE DESTROEM EM COMBATE SANGRENTO.”

    Antes mesmo, porém, que tal “fake” circulasse pelos povos vitimados pela desinformação, no local onde teriam entre “inimigos” ocorrido tão “sangrente batalha”, o sombrio OVNI negro,antes expulso pelo esforço dos aliados em combate, agora estava de volta ao seu posto nos ceus, sugando da terra, rios de lava derretida, assim como quem bebe seu café da manhã.

Este, foi apenas o humilde relato de...
MAIS OUTRO DIA DE GUERRA

***

MORAL DA HISTÓRIA:
Em alguns trabalhos, não é recomendável despertar a ira da chefia, quebrando a discplina hierárquica, e a respectiva cadeia de comando.
O resultado da afronta, pode ser inesperado.

***

Em casos assim, espera-se que as coisa sejam mantidas como estão, pois, de qualquer modo, a tendência é que elas se mantenham assim....
ISSO SE, UM ESFORÇO MAIOR PARA A MUDANÇA NÃO FOR EMPENHADO.

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